Em Minas, de onde eu venho, quando há procissão, existe a tradição de enfeitar as ruas por onde passa o cortejo com tapetes. Neles, é comum ver representações de objetos litúrgicos e outras imagens que fazem parte do repertório católico.
Mas desenhar o chão de forma ritualística independe de religião. Na umbanda, por exemplo, é comum que uma entidade risque um ponto depois da incorporação. Nesse contexto, os pontos são escritas sagradas, signos que auxiliam nos trabalhos realizados dentro do terreiro. Também para os praticantes do candomblé, o chão do terreiro é solo sagrado onde são colocados os assentamentos, representações materiais dos orixás criadas por meio da consagração de um objeto manipulado a partir de conhecimentos secretos e ancestrais.
Portanto, creio que esse tapete representa um assentamento, um ponto riscado e um altar onde disponho imagens que refletem minha formação cristã e minha experiência com outras religiões.
Ao todo, são 93 fotos ornamentadas e montadas sobre uma estrutura de cavaletes para facilitar a apreciação do expectador. O tapete propõe o diálogo entre a fotografia e o artesanato. Por isso, recorro a diversos materiais para criar peças repletas de camadas e sobreposições. Há flores de tecido e de papel, fuxicos, plumas e rendas, sobras de outras exposições e retalhos de fantasias. Assim, o colorido extrapola a fotografia que ganha novas formas, contornos e volumes.
Separadas em trios, como se fossem alas, as imagens que integram o tapete também desenvolvem um enredo acerca da fé católica, misturando cenas de extrema violência, como as da paixão de Cristo, a representações da glorificação de São Francisco e de Santa Luzia, por exemplo. Há ainda quadros que destacam a ternura da Virgem Maria e representações pagãs na azulejaria portuguesa.
Enfeitar o sagrado é um costume que vem desde o período colonial e que foi perpetuado não só pela prática religiosa, mas também pelas celebrações populares.